quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

DE VOLTA ÀS ÁGUAS DO RIO PIANCÓ

Até que enfim chegou um pouco de água no nosso rio Piancó, hoje tão cansado de tanta espera e aflição. É de dar dó... 

Ainda não cheio, de barreia a barreira, mas espero que em breve ocorra esse momento mágico e necessário, porque só assim as boas lembranças virão à tona, detonando a pulsação da emoção e do grito de esperança guardada por um povo trabalhador, humilde e honesto, mas sofrido e desassistido...

Embora esteja na ausência do seu corpo físico, tão bem desenhado pelas curvas geográficas, tendo sua origem lá na Serra Dona Inês, em Conceição-PB e o seu destino final nos braços do açude de Coremas-PB, descortinarei o véu da alegria e da nostalgia, reclamado há muito tempo dentro de mim...

Suas águas eram remédios para cicatrizar as mágoas dos dias escaldantes, gritando pela salvação da sede provocada nas casas desprovidas, nas plantações sofridas e nos animais raquíticos demais...

O banho puro naquelas águas tão lindas não tinha preço, nem endereço de perdição. Era simplesmente um lugar fértil de criação ofertado pelo mundo subjetivo e vivido de uma criança, sem qualquer apego às coisas materiais...

O amanhecer era o convite desejado por todos os seus visitantes para caírem nos braços da sonoridade e da beleza estonteante na leveza da sua correnteza... 

As folhas verdejantes das árvores seculares, sopradas incansavelmente pelo vento, comunicava a chegada daquele evento memorável... As suas sombras acolhiam o descanso do guerreiro extasiado de prazer... 

Os cantos dos passarinhos em notas breves e suaves entoavam as mais perfeitas melodias, adornando aquele espaço fantástico...

Os animais rasteiros se acasalavam, correndo sem direção pela ribanceira, em busca de suas presas ou fugindo das mãos certeiras dos seus algozes...

Os diversos peixes saltitavam sem compromissos e sem previsão do perigo iminente...

As sereias, sem donos, naquelas areias transparentes, eram fotografadas pelos olhos estupefatos e pidões... 

O pôr do sol acobertava o sussurro profundo da efêmera felicidade... E a velocidade das horas anunciava, inesperadamente, no ouvido da reclamação a implacável quebra de toda aquela magia. Era o pior castigo sentenciado pela mão do tempo, filho da mãe- natureza... 

Assim, afogado em lágrimas de saudade que caem freneticamente dos meus olhos, procuro em meus sonhos voltar às águas puras do meu rio Piancó.

João Pessoa, 20 de fevereiro de 2013 – 12h12 -José Ventura Filho

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