sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

NÃO CONHEÇO FORTE QUE NÃO SE QUEBRE

Por Saulo


"Em certo país do centro de África, na orla de uma grande floresta, um belo leão de juba preta tinha estabelecido a sua moradia, muito perto do que restava de um grande morro de térmitas. Aquele morro alto e amarelado havia sido abandonado pelas térmitas. Constava que um grande porco formigueiro, muito voraz, dera cabo de todas as térmitas, destruindo um dos flancos do morro para poder chegar aos pequenos e infelizes insetos. Por ironia do destino, um ratinho do campo, castanho e de dorso listado, aproveitara o morro abandonado para dele fazer a sua habitação permanente. Aquilo, para ele, tinha sido um achado muito especial. O Rato não precisou de escavar mais nada, nem de fazer obras. O morro por dentro era um verdadeiro palácio, cheio de salões e galerias. Na verdade ele apenas ocupava uma pequena porção do morro. O Rato conseguira mesmo arranjar uma sala dentro do morro, que reservara para fazer o seu celeiro. Era ali, que ele armazenava as suas sementes, as suas bagas e as suas raízes.

Por vezes, quando o Leão dormia, depois de se saciar completamente, o Rato conseguia mesmo arranjar alguns pequenos pedacinhos de carne, que melhoravam a sua dieta. O Leão tinha visto algumas vezes o Rato a andar por ali, mas não lhe prestava a mínima importância. Ele era um animal tão pequeno e tão insignificante, que nem sabia de que animal se tratava.

O Rato, pelo contrário, conhecia bem o Leão e temia-o. Ele não se aventurava muito para fora do morro, quando o Leão estava acordado ou a comer as suas lautas refeições.

Depois de saciado, o Leão deitava-se refestelado no solo úmido e fresco e dormia a sono solto durante várias horas. O Ratinho, por uma questão de segurança, só saia da sua toca quando o Leão começava a ressonar alto. Ele já sabia, por experiência adquirida, quanto tempo duravam as sonecas do Leão. 

Procurava então aproveitar estes bons intervalos de tempo, para ir tratar da sua vida e para ir visitar a sua namorada.

Um certo dia, o Rato distraído perdeu a noção do tempo. Quando se apercebeu que já estava atrasado para regressar a casa, voltou a correr, com medo de ser apanhado pela noite. A noite era muito perigosa para os pequenos roedores. Havia mochos e corujas por todo o lado e eles eram exímios caçadores de ratos. A noite era muito perigosa para os pequenos roedores. Havia mochos e corujas por todo o lado e eles eram especialistas a caçar as suas presas.

Ao chegar a casa, o Leão já estava acordado, a bocejar e a espreguiçar-se. Era a hora em que habitualmente o Leão saia para caçar.

─ Ai, que estou frito, pensou o rato! Agora como é que eu vou passar para ir para a minha toca? Será que o leão vai sair agora? Vou ter de esperar!

Mas o tempo ia passando, o Sol estava a declinar no horizonte, e o Leão continuava a estar ali, sem dar sinais de sair. O Rato começou a ficar muito aflito. ─ Que é que eu faço? Que é que eu faço? Eu não posso passar a noite fora de casa. Posso ser comido pelos meus inimigos. Ele sabia que muitos conhecidos seus tinham perdido a vida por não se terem recolhido a casa a tempo de evitar a escuridão da noite. Custasse o que custasse ele tinha que ir para a sua toca.

E se, com boas maneiras, ele pedisse ao Leão licença para passar? Quem sabe, o leão talvez não se importasse! Então respirou fundo, encheu o seu peitinho de ar e disse para o leão: ─ Senhor leão, boa noite, eu sou o ratinho do campo que mora aqui no morro de salalé, em que o senhor se costuma encostar. Eu já vivo aqui há muito tempo, mas passo sempre por aqui quando o senhor está a dormir - O senhor Leão certamente não me conhece. Olhe senhor Leão, seja bom para mim e deixe-me passar para eu poder ir para a minha casa! O Leão que nem sabia que o rato existia e que morava perto dele, ficou muito admirado com a vozinha que lhe vinha do meio do ervas.

─ Olha ratinho, tu estás a falar-me, mas eu não te vejo nem sei quem tu és!
─ Mostra-te lá, chega-te para mais perto de mim, para que eu te possa ver bem e conhecer!
─ Oh senhor Leão, eu tenho muito medo do senhor. Todos os bichos têm muito medo de si, senhor Leão! Eu sei que o Senhor não é mau, que só mata para poder matar a fome!

O Leão sensibilizado com esse inesperado elogio, respondeu: ─ Vem cá ratinho que eu prometo não te fazer nenhum mal! Eu neste momento não estou com fome e mesmo que estivesse não era contigo que eu poderia matar a minha fome. Mesmo que estivesse, nunca te comeria. Eu sou o rei dos animais da selva e não posso sujar o meu prestígio comendo ratos! Se eu fosse um gato, poderias ter medo, mas eu não sou nenhum gato!

O Rato, tranqüilizado por esta afirmação, avançou e pôs-se bem à frente do leão.

Então tu é que és o rato do campo? Eu pensava que um rato fosse bem maior. Tu és mesmo um animalzinho insignificante, nem sei como há bichos que ainda perdem tempo para te caçar. Devem ser patetas! Será que com esse tamanho tens alguma utilidade?”

─ Olhe senhor leão, respondeu o rato com muito medo e a tremer todo. Olhe senhor leão, eu não sei de fato se presto para alguma coisa! Nasci assim, para ser pequeno e insignificante como o senhor diz. A única coisa que sei fazer bem e depressa, é roer! Eu sou capaz de roer tudo, porque os meus dentes nunca se gastam. Estão sempre a crescer.”
O Leão achou graça à humildade do Rato e disse-lhe : ─ Passa lá ratinho, não precisas de ter medo. De hoje em diante, podes passar sempre que quiseres, quer eu esteja a dormir, quer eu esteja acordado. Eu não te farei mal algum. Eu não faço mal a ninguém por prazer e que proveito teria eu nisso? Tu és tão pequeno!

O senhor tem mesmo muita razão, senhor Leão, eu sou de fato insignificante.
─ Então passa ratinho, passa lá, vai para a tua casa e não saias à noite. “

O Rato não quis ouvir mais nada, correu quanto pôde e enfiou-se na sua toca. Quando se deitou na sua caminha de ervas cortadas, ainda lhe tremiam as pernas e o seu coração palpitava aceleradamente. AI…, que susto! Daí para a frente, o Rato passou a movimentar-se muito mais à vontade e gradualmente foi perdendo o medo ao Leão. Sempre que entrava e saia e o leão estava por ali fazia-lhe sempre uma calorosa saudação. O Leão nem sempre lhe respondia, mas mal também não lhe fazia. Houve porém um dia em que o Rato, ao sair de casa, não viu o Leão e ao regressar também não o viu. Para onde teria ido?” Ele já não tinha mais medo do Leão e até gostava que ele ali continuasse a viver, pois sentia-se mais protegido com a sua presença..

No dia seguinte o leão também não apareceu. Que teria acontecido?

Ali havia grosso mistério. Pensou o rato. Ao deslocar-se nesse dia para ir a casa da sua namorada, ouviu casualmente pelo caminho um macaco a dizer a outro, que um grande leão, de juba preta, tinha ficado preso por uma pata traseira, num laço de corda que os caçadores africanos tinham armado perto de uma grande mulemba.

O rato logo pensou sobressaltado. ─ Ah, é certamente o meu vizinho leão.
Tenho de ir rapidamente para lá, para ver de que maneira o posso ajudar. E, cheio de determinação e ousadia, foi pelo mato fora, esgueirando-se furtivamente por aqui e por ali, à procura da tal mulemba grande. Depois de andar cerca de uma hora avistou ao longe a grande mulemba. Ao aproximar-se, começou a ouvir os urros do Leão que lutava desesperadamente para se desembaraçar do laço que lhe prendia fortemente a pata. Quanto mais o Leão puxava pela pata, mais o laço se apertava.
O Rato aproximou-se rapidamente do Leão e verificou que ele estava preso por uma corda grossa de fibras torcidas.

─ Olha, Leão, sou eu, gritou alto o Rato! Vim ajudar-te! Vou libertar-te!
─ Tu ? Como é que tu me podes ajudar, seu ratinho minúsculo?
─ Olha, Leão, não é altura de me chamares nomes. Fica quieto, não puxes mais pela pata, deixa-me trabalhar à vontade e observa.

O Rato começou então a roer a corda por cima do nó. Passados quinze minutos a corda ficou totalmente roída e o Leão estava livre. A primeira coisa que o Leão fez foi agradecer ao Rato a sua preciosa ajuda.
─ Sabes ratinho amigo? Estou muito envergonhado! Tenho de te pedir perdão por te ter chamado animal insignificante e imprestável. Tu acabas de provar-me que estou completamente enganado. Tu tens um grande valor, meu amigo. Fizeste aquilo que eu, o rei da selva, não fui capaz de conseguir. Foste um grande amigo meu, porque vieste até aqui, enfrentando muitos perigos, só para me ajudares. A partir de hoje podes contar com a minha grande amizade e consideração.

Olha ratinho amigo, chega-te aqui. Vou dar-te um beijo de agradecimento.”

O rato aproximou-se do leão cheio de medo. “Será que o leão está a ser sincero?”

Estás com medo, não é mesmo, ratinho? Bem, percebo. Então não te beijo, mas podes trepar para a minha juba, porque faço questão de te levar para nossa casa.

E assim termina esta fábula, com o ratinho do campo a cavalgar triunfante o majestoso e arrogante leão, de quem se tornou um íntimo e grande amigo.

Moral:- Ninguém pode pensar que é tão FORTE, um dia vem o tombo."

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