segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Ariano Suassuna leva poesias de Inácio da Catingueira ao mundo


Motivo de orgulho para a pequena cidade de Catingueira, o poeta negro “Inácio da Catingueira” do século XIX, com o passar dos anos deixa cada vez mais claro a importância do seu legado para os filhos desta terra, bem como sua importância para a ascensão do nome do município perante o mundo.

O Poeta e Autor Paraibano Ariano Suassuna, que realiza palestras nas mais diversas regiões, está de forma brilhante levando o nome de Inácio e da cidade de Catingueira aos olhos e ouvidos do mundo, pois introduziu ao seu trabalho literário nas apresentações das palestras, versos do poeta escravo Inácio da Catingueira, datado de um embate poético em forma de rima com outro cantador da época e adversário ferrenho de Inácio, que atendia pelo nome de Romano do Teixeira.

Na apresentação, Ariano exemplifica de forma coesa um gênero literário criado pelos cantadores brasileiros do século XIX denominado Castelo, onde dois cantadores têm que erguer um castelo em forma de verso e o outro terá que derrubá-lo, também na forma de verso.

Usando como referencia o embate de Romano x Inácio, o Autor profere os versos :

Romano: 

Inácio tu me conheces 
E Sabes Bem Quem Eu Sou
Eu Posso Te Garantir 
Que a Catingueira Ainda Vou
Vou Derrubar Teu Castelo
Que Nunca Se Derrubou

Inácio: 

As Paredes Do Castelo /Tem 100 Metros de Largura
Tem Ainda o Alicerce /Com Bem 30 de fundura
E do Nível Para cima/ Bem Uma Légua De Altura.
Tem Um Cachorro feroz/Que tem por Nome Iracundo
E Uma Cobra Gigantesca/ Que Devora Todo Mundo 

O vídeo postado no youtube é longo, mas é possível assistir o momento do “embate” a partir do tempo 01h:01m:35s.



(Foto: Estátua de Inácio localizada no centro da cidade de Catingueira)



Fonte: CatingueiraOnline
Colaborar: Rodrigo Lopes

Quem foi Inácio da Catingueira?

Inácio da Catingueira, escravo do fazendeiro Manuel Luiz, foi cantador lendário e citado orgulhosamente por todos os improvisadores do sertão. Seus dotes de espírito, a rapidez fulminante das respostas, a graças dos remoques, a fertilidade dos recursos poéticos, a espantosa resistência vocal, ficaram celebrados perpetuamente. Sendo negro e analfabeto não trepidou enfrentar os maiores cantadores do seu tempo, debatendo-se heroicamente e vencendo quase todos. Foi o único homem que conseguiu derrubar o mais famoso repentista da época, Romano da Mãe D’Água, depois de cantarem juntos oito dias em Patos, luta que é a página mais falada nos anais da cantoria sertaneja. Inácio nasceu no dia de santo Inácio Loiola, 31 de julho, na fazenda e povoação de Catingueira, perto de Teixeira, Ribeira do Piancó, no Estado da Paraiba, e faleceu aí, sexagenário, em fins de 1879. 

O nome certo do local onde nasceu Inácio, no século XIX, é Sítio Marrecas, como escravo de Manoel Luiz de Abreu, mas também foi cativo por herança de Francisco Fidié Rodrigues de Sousa, genro do mesmo. No inventário, Inácio da Catingueira, constou como bem, em valor de 1.200$000 (um conto e duzentos mil réis). Tal partilha foi procedida na residência do senhor Nicolau Lopes da Silva, filho da viúva Ana Joaquina da Silva, em 13 de fevereiro de 1875, oportunidade em que Inácio da Catingueira já contava 30 anos de idade e era considerado um imenso bem humano. No dia 22 de março, em seguida à partilha, o inventário foi homologado pelo juiz, dr. João Tavares de Melo Cavalcante Filho. O histórico documento encerrou-se com distribuição das custas aos serventuários da justiça, em 21 de abril do mesmo ano.

Nas pesquisas e informações que obtivemos através de Gervásio da Silva, de Saloá, Pernambuco, se desencontram apenas a idade de Inácio. Umas fontes trazidas por ele, dizem que Inácio morreu com mais de 60 anos, vitimado por pneumonia; e outras dizem que ele, vitimado pela mesma doença, haveria morrido com pouco mais de 30 anos. Pelo sim, pelo não, resolvemos manter as duas datas.

Inácio da Catingueira, analfabeto, teve como grande trunfo para conseguir a liberdade, o talento poético, com o qual sensibilizou o seu senhor. Não chegava a ser impedido de se ausentar da morada para qualquer viagem, por mais que demorasse e, ainda por cima, era dono de tudo o que conseguia como sua humildade artística.

O acontecimento que o tornou conhecido é tido também, como a maior peleja entre dois repentistas já ocorrida no Nordeste. O desafiante seria outro poeta, não escravo e já afamado, conhecido por Romano da Mãe D água, e tal embate se daria na cidade de Patos. A primeira vez que Inácio se deparou com aquele que seria um parceiro por muito tempo, foi registrada na casa de Firmino Aires, oportunidade em que se fazia acompanhar de um grupo proveniente de sua terra. O objetivo era apenas conhecer o homem tido como grande mestre. Levado para a presença do Rei dos Repentes, empunhando o seu pandeiro, Inácio foi desafiado por este, e o célebre desafio entre os dois cantadores e que sagrou Inácio o campeão inconteste, durou oito dias, garantindo público, em praça pública de Patos, nas redondezas da tradicional feira, proximidades da Igreja da Conceição. A partir daí, ficaram companheiros e, por onde passava a dupla, arregimentava verdadeiras multidões.

Inácio da Catingueira, segundo a outra fonte, veio a falecer acometido de pneumonia, em consequência de trabalhos no campo, época da queima de brocas, com pouco mais de trinta e três anos de idade. Seu corpo não foi sepultado na Fazenda, como de praxe faziam com os escravos. Repousa em uma praça, no centro da cidade, a qual leva o seu nome, tendo, inclusive, uma estátua em sua homenagem.

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