Estive no Vale do Piancó, notadamente em Itaporanga, entre os dias 20 a 24 de janeiro passado. Sempre que vou ao Vale visitar a família e todas minhas raízes sertanejas, eu vou acompanhado de minha esposa. Mas, dessa vez, o motivo não foi só visita familiar; eu fui ao lançamento do livro Vale do Piancó – Aspectos de uma região, de minha autoria.
Nos primeiro dias em que estivemos lá, ganhamos o privilégio de assistir ao espetáculo: as primeiras chuvas da estação chuvosa, que, por sinal, não foi concretizada ainda. A chuva foi pequena realmente para o tamanho da estiagem que o Vale está passando, todavia, o suficiente para mostrar a beleza que são as primeiras que caem no sertão.
Ouvi trovões; vi a claridade dos relâmpagos, ouvi os gritos de alegrias dos habitantes os quais contemplavam ao espetáculo. É que os sertanejos quando estão nessa ocasião, o que vem à mente: é cair na chuva e descarregar a energia pesada das lamúrias dos tempos secos e difíceis.
Na verdade, a chuva foi pouca para a região, mas o suficiente para despertar a alegria de melhores tempos.
Após a chuva, no outro dia, fomos voltear pela cidade e, quando estou em minha cidade, a primeira visita que faço é ao Cristo Rei, a estátua construída pelas idéias do Padre Zé. Para ir ao Cristo Rei, temos de sair de Itaporanga em direção a Piancó pela BR 361 e, logo depois, converter à esquerda na estrada que dá acesso ao monumento.
No meio dessa estrada, algo chamou nossa atenção, uma serenata de pássaros: eram os conhecidos fura-barreiras ou rapazinhos dos velhos para os mais eruditos. Paramos o carro, saímos dele e passamos a contemplar a linda serenata. Eram cantos de alegria pela chuva do dia anterior. Na copa do angico, o minúsculo bem-te-vi desafiava a um gavião. O pequeno pássaro laçava vôos desafiadores contra o predador da caatinga. Ao fundo, se ouvia o cantar cadenciado das pombas rolas: uuu!!! Uuu!!! Pareciam notas tristes, mas não eram.
Onde paramos, havia poças d’água acumulada da chuva do dia anterior, mais ou menos a altura do sítio Cabeça Dantas. Depois, já por volta das 16 horas e 30 minutos, partimos para o Cristo. Lá chegamos e observamos a magistral obra de arte do arquiteto Alexandre Azevedo de Lacerda, estátua magnífica. Lá está sepultado o idealizador do monumento, Padre Zé. Vimos o túmulo e subimos pela escadaria para contemplar a paisagem sertaneja do alto da estátua. Muito linda a visão de lá. Ao observar detalhes dos cuidados administrativos do monumento, constatamos pequenos atos de vandalismo na estátua. Os vândalos põem nomes com objetos perfurantes nos corrimãos das escadas, danificam as placas, existem muitas luminárias quebradas, alguns refletores quebrados. Havia dois grupos de rapazes na faixa dos 12 para 16 anos lá. Não encontramos vigias, zeladores ou qualquer pessoa cuidando do local. O ambiente estava livre e até suspeito se fosse outra pessoa que não conhecesse o lugar. Sabe-se que o monumento religioso pertence à igreja católica e, à comunidade. Depreende, no entanto, que não é muito trabalhoso para contornar aquela situação encontrada, bastando maiores cuidados das pessoas envolvidas. Quanto aos atos de vandalismo, uma boa base escolar no ensino fundamental e campanhas educativas funcionariam muito bem para o caso.
Depois da visita ao Cristo, resolvemos passar pelo Colégio Diocesano para matar um pouco a saudade. De lá, fomos até a casa de Praxedes Pitanga, no final da Avenida Presidente Vargas. Ao chegar lá, paramos e logo começamos a admirar, com olhares de curiosidade, a casa. Belo monumento, o criador dela, no caso Pitanga, teve uma visão de projeção e expansão da cidade no sentido leste a oeste.
O velho casarão tem uma visão imponente, acho que arquitetura européia. Construída em um alto, ela (a casa) projetou o crescimento da Avenida Getúlio Vargas. A avenida inicia nas margens do rio Piancó (parte não segura à alagação) e sobe até o histórico monumento de Praxedes Pitanga. Ela (a casa) está muito velha realmente e sem ninguém a utilizando para moradia ou outros fins, observei, mas, mantém a beleza da arquitetura da época. Esse casarão deve ser preservado, pois ele não fala pela História, mas a História fala por ele.
Eu tenho em mente e visualizo esse dois líderes da cidade: Padre Zé e Praxedes Pitanga. Figuras que habitaram o solo do Vale e deixaram suas marcas por lá. Seriam marcas difíceis de apagar, pois foram plantadas com planos e usando ferramenta como a inteligência humana.
Agradeço aos habitantes de Itaporanga pelo lançamento do meu livro e me revigoro em saber que estive no Vale do Piancó.
Foto: dos pés do Cristo é possível ver a cidade inteira.
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