quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Os "Doidos" de Itaporanga

Doido eu não sou

OS LEGITIMADOS E ANTIGOS DOIDOS QUE VIVERAM EM ITAPORANGA/PB, DE CISSO SOCÓ A AÇOITE
                                                       (José Assimário Pinto)
O mais famoso de todos foi o Açoite, que era uma espécie de nômade no alto sertão paraibano. ora estava em Itaporanga, ora em Piancó, etc..


 O primo Nonato Pinto, certa vez me disse que “para ser doido em Itaporanga precisava-se de muito juízo”, talvez por isso andasse tanto o Açoite.
Era realmente uma figura extraordinariamente louca e inteligente, contam-se muitas histórias sobre Açoite, dentre as quais destacamos:  - Era um pedinte inveterado e, ao receber o dinheiro sempre dizia que a ajuda se destinara a completar sua passagem de ônibus, quando, público e notório, se sabia que ele não pagava absolutamente nada. Normalmente andava com um cordão e uma pedra nele amarrada e ao receber a ajuda, rodava o cordão com a pedra, esticando-a e fazendo sangue no queixo, rogando sempre uma praga contra si.- De outra feita, vinha num ônibus que fazia a linha Piancó-Itaporaanga, desafiando a todos os passageiros em voz alta:
- “ Quem me der algum dinheiro, eu adivinharei quantas letras tem no nome do Grupo Escolar que se encravava na entrada de Piancó.
Quando havia algum tolo que se dispusesse a pagar a ele algum valor , dizia: “ São 23 letras”. É evidente que o mesmo já contara as letras do nome do Grupo, anteriormente, e asseverava, de sobra: é muito melhor ser doido em Piancó do que ser Prefeito em Itaporanga.
- Outro doido importante na redondeza chamava-se “ Cisso Socó” ou Carcará.


Cisso povoava as mentes de crianças e velhos a ponto de alguns quando acometidos de febre alta, “tresvaliar” dizendo seu nome.Cada um ponha a carapuça na cabeça e veja se isso não é verdade. Cisso morava numa casinha, cuja frente dava para os fundos da casa do Senhor Josué Pedrosa.


 Todo o mundo queria assumir a paternidade de tê-lo trazido para Itaporanga, tão inteligentes eram as suas tiradas.
Certa tarde estávamos numa mesa de bar, colocada na calçada da Sorvedrink, quando lá vinha o Seu Sebatião Gomes, impoluta figura da cidade; um dos estudantes então perguntou:
- Seu Sebastião, o senhor conhece Cisso Socó?
E ele respondia de forma imponente:
- Cisso não é doido não, é muito inteligente e eu o trouxe pra cá por que estava se perdendo no Minador, que era um Sítio de propriedade de sua família. Todos da família Gomes.


 Walter Inácio dizia que se fosse do Minador, o doido era legítimo!
Em matéria de doido, não se pode esquecer que de louco, todos nós temos um pouco, mas Zé de Tachim, Tio de Chico Alves, era realmente um doido exemplar, pois, a voz corrente, dizia que tinha perdido o juízo por uma donzela bonita do lugar – Misericórdia, como chama meu irmão Amaro Gonzaga P Filho, ainda hoje, fazendo sua defesa do nome por considerar mais compatível com as origens para as quais fora criado.Zé de Tachim usava uns óculos de lentes pequenas e hastes que ele dizia ser folheadas a ouro, e as pregava com cola nas orelhas para não levar “cassoleta” dos meninos do povoado.
Chico Augusto, meu tio, muito brincalhão, uma vez apostara com ele que se dissesse o nome de todas as capitais dos países do mundo, sem errar e tomar fôlego, dar-lh-ia uma folha de pão doce, e uma lata de doce de goiabada para comer de uma só vez. Não deu outra, Zé engoliu a folha de pão e a lata de doce, pois que dissera de um só folego o nome das capitais de todos os países do mundo.
Era ou não um doido inteligente?!
 Outro doido que andava maltrapilho pela cidade antiga, era Caetano, esse coitado, era doido mesmo, puro e sem origem. A estudantada tornava-no ainda mais doido.
Caetano piorava sempre, a cada Lua nova, uivava como cachorro e se urinava todo, mas era manso e bom de coração.
Violentos e perigoso era o Zé Marcelino e a doida chamada 38, que ficava nua por qualquer motivo e tomava muita pinga. Zé Marcelino já andava com uma banda de tijolo na mão, pronto para agredir e relinchava como um jegue quando via gente, gesto esse que Zé do Velho herdaria toda vez que tomava cachaça, para deleite dos habitantes da cidade.
Havia um doido, o mais antigo de todos, e fora quem inventara mania no mundo: Só saia pela porta que entrava e só dormia se fosse em caixão de defunto e na Igreja Velha


 Os doidos formavam uma espécie de bobos da Corte e que alegravam os momentos de lazer de toda a população de antanho, e ai de quem atentasse contra eles. Fosse quem fosse.
Campina Grande, 23 de outubro de 2013.

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