Martinho Moreira Franco
Não vou lembrar só por lembrar, mas que saudade até que assim é bom, é. “Assim” que eu digo é ver Lucy Alves classificar-se no programa The Voice Brasil, da Rede Globo, e, ao mesmo tempo, recordar o concurso de frevo que ganhei no programa Matinal do Guri, da Rádio Tabajara. Quase sessenta anos distanciam um evento do outro, é verdade, mas quem foi que disse que saudade é ruim quando se vive a sonhar com alguma coisa que se deseja rever? No meu caso, por exemplo, não vivo doido a sofrer por isso, não. O que me faz sentir algo que um dia perdi é o título do programa da Globo. Esse, sinceramente, amarga que nem jiló.
Tá bom, tá bom, eu sei que se trata de uma franquia internacional, originada do The Voice of Holland, mas custava nada fazer como foi feito em Portugal, onde substituíram The Voice por A Voz, ou na Argentina, no Chile e na Colômbia, onde optaram por La Voz? Na França, ficou La Voix France. Temeu-se por aqui a similitude com o radiofônico A Voz do Brasil? Bobagem. Ficaria A Voz Brasil, e pronto. Mas, deixa isso pra lá! Até porque o programa da semana passada se vestiu de Brasil na voz da paraibana Lucy Alves, encantando, de bate-pronto, o jurado (chamado “técnico”) Carlinhos Brown e, na esteira, o companheiro de bancada Lulu Santos, o que valeu a classificação da vocalista do Clã Brasil para a próxima fase da competição, recaindo no primeiro a escolha do seu “treinador”.
Devo dizer que, antes de a lembrança subir ao palco da Matinal do Guri, a memória puxou para os programas de calouros que pontificavam na tevê entre as décadas de 1960 e 90 (Chacrinha, Flávio Cavalcanti) e nos quais sobressaíam jurados como Aracy de Almeida, Cidinha Campos, Décio Piccinini, Elke Maravilha, Erlon Chaves, José Fernandes (que só dava nota zero), José Messias, Maestro Cipó, Márcia de Windsor (que só dava nota dez), Mister Eco, Pedro de Lara e Sargentelli. Não há comparação com a formação atual, embora o The Voice não seja propriamente um programa de calouros. "Todos os participantes são profissionais que já têm experiência", ressalva o diretor-geral Carlos Magalhães.
Bem, voltando ao concurso de frevo que ganhei (ganhei, mas não levei; essa história já foi contada aqui), preservo boas lembranças de outros programas de auditório da Tabajara, animados por Jacy Cavalcanti, Gilberto Patrício, Pascoal Carrilho e Polari Filho. Foi a época em que grandes nomes da música popular brasileira (Alcides Gerardi, Ângela Maria, Augusto Calheiros, Carlos Galhardo, Cauby Peixoto, Dircinha e Linda Batista, Nelson Gonçalves) vinham frequentemente a João Pessoa. E quando também brilhava na emissora da Rua da Palmeira a prata da casa: Eclipse (“O Claríssimo”), Josil Mendonça (“O Goleiro Cantor”), Jota Monteiro, Marlene Freire, Parrá, Penha Maria, Tabajaras do Ritmo, Teones Barbosa, Zacarias e Zeth Farias.
Para vocês verem aonde Lucy Alves me levou! Fascinado pela sua apresentação, terminei entrando no túnel do tempo e desembarcando na rua da saudade. Valeu, menina!
______________________________________________Martinho Moreira Franco escreve em A União aos domingos e quintas-feiras
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